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22 de Agosto de 2015  –  atualizado em 28 de Agosto de 2015

 – por Rodrigo Caravita

IPA Day 2015

O IPA Day, como muitos devem saber, é um dia no calendário mundial de cervejas para homenagear um dos estilos mais conhecidos no meio das cervejas especiais e artesanais, a India Pale Ale. Tradicionalmente é comemorado toda primeira quinta-feira do mês de agosto. É um evento mundial, criado muito recentemente, em 2011, nos Estados Unidos, com a intenção de fomentar o movimento das cervejas artesanais. Segundo uma descrição que encontrei na internet: “Founded in 2011, IPA Day is a universal movement created to unite the voices of craft beer enthusiasts, bloggers and brewers worldwide, using social media as the common arena for connecting the conversation”.

No Brasil, o primeiro IPA Day foi realizado em 2012, na fábrica da Cervejaria Colorado, em Ribeirão Preto. Eu estava presente neste evento, foi um evento bem rústico, com cerca de 12 cervejas de 9 cervejarias e alguns lançamentos. A Vixnu estava recém lançada, a Hi-5 surgia como uma das primeiras, se não a primeira, Black Ipa. Enfim, o movimento estava bem no começo ainda. A festa deve ter contado com menos de mil pessoas, pelo que me lembro. Não tinha ninguém para servir o chope, cada um pegava o seu próprio chope em chopeiras bem caseiras, em copo de plástico mesmo (uma caneca rígida, se não me falha a memória). Ah, não tinha muita comida e alguns chopes acabaram super rápido. Mas o Vixnu e o Indica seguraram a festa até o final. Mesmo com tudo isso, adorei a festa e prometi voltar outras vezes.

A festa cresceu: em 2013 já eram 22 cervejas, num espaço maior, com cerca de 1200-1400 participantes. Em 2014, a terceira edição, foram cerca de 2000 participantes, em um novo espaço, e com 34 IPAs, além da recém inaugurada Weird Barrel. Ou seja, o evento vem evoluindo e mudando a cada ano, aumentando o número de cervejas, de cervejarias e de participantes. Deste a segunda edição, pelo menos, o Rafael Moschetta, da Academia de Ideias Cervejeiras, está a frente da organização, desde a época que ele fazia parte do time da Colorado ainda. O evento ficou como uma marca da Academia de Ideias Cervejeiras, com principalmente o Rafael Moschetta e o João Becker a frente da organização. Só em 2014 o Weird Barrel surgiu. Apenas para começar esclarecendo algumas coisas, já que muitas críticas do evento este ano foram direcionadas ao Weird Barrel.

Avaliação do evento

Dito isso, espero fazer uma avaliação sincera e honesta do evento deste ano, levanto em conta a história, o empreendedorismo dos organizadores, a busca constante por melhoras etc. Cheguei no evento às 12:45, e uma fila considerável já estava formada, sem muitos sinais de avanço. Mas aos poucos a fila começou a avançar, parece que houve um pequeno atraso na abertura dos portões, cerca de 20-30 minutos. Fiquei na fila para entrar exatamente 1 hora e 20 minutos. Um tempo considerável, mas relevável. Evidentemente, pode-se sugerir melhorias neste ponto, maior agilidade pra liberar a entrada, mais atendentes, e sem atraso na “abertura dos portões”.

Fila para entrar

Grande Detalhe para a fila que dava voltas

Quando entrei, a primeira coisa que chamou a atenção foi a estrutura e o local. Realmente um local muito grande, um palco muito bom pra banda, o som bom (embora um pouco alto), mesas de sinuca e pebolim, pontos de água, pontos pra lavar o copo e 11 pontos pra distribuição de cerveja, com cerca de 4 chopes por estande. Gostei bastante do copo que recebi também, embora ele tenha recebido muitas críticas (tamanho, formato).

Entendo a intenção do “copo de papinha”: primeiro, um copo resistente, com tampa, num formato simpático e que surgiu em festivais de cerveja nos EUA (se não me engano) com a intenção de valorizar a cerveja principalmente. Ou seja: mais cerveja, menos frescura.

Porém, “mais”, é o problema, já que o copo era pequeno (cerca de 250 ml – medi em casa – e não 200 ml como muitos falaram). De qualquer forma, entendo também a intenção do copo pequeno: favorecer a circulação das pessoas e tentar fazer com que as pessoas tomem um maior número de cervejas diferentes. Um cálculo rápido, considerando 200 ml, para 40 cervejas diferentes, isto daria 8 litros de chope por pessoa. Duvido que alguém, por mais insano que seja, consiga tomar 8 litros de cerveja (muitas delas com teor alcoólico bem alto) em um evento destes. Eu tomei cerca de 1,8l e sai do evento bem feliz, e sou razoavelmente resistente a cerveja.

Copos Simpáticos, bonitos e funcionais - realmente não entendo a frescura de quem os critica

Esta intenção daria certo caso as filas não fossem muito demoradas. Como as filas eram centralizadas por estande e havia apenas 11 estantes, supondo que, dos 2700 participantes da festa (números oficiais), cerca de 2000 participantes resolvessem pegar cerveja, seriam 180 pessoas por fila. Supondo que cada pessoa demorasse cerca de 30 segundos para ser atendida, considerando que a cada vez eram atendidas duas pessoas ao mesmo tempo, a última pessoa da fila demoraria cerca de 45 minutos pra ser atendida.

De fato, no horário de pico, esperava-se cerca de 30 minutos na fila. Com esta demora, as pessoas não queriam pegar apenas 200 ml de chope, e então começaram a usar copos de água para pegar mais cerveja. Isto começou a gerar um efeito cascata, já que multiplicava o tempo de atendimento. Enfim, o velho jeitinho brasileiro começou a aparecer e aquela lógica que todos conhecemos bem: “se todos estão fazendo, eu vou fazer também”.

Então, acho que o maior erro aqui foi uma combinação de quantidade de estandes versus tamanho do copo. Talvez, ao invés de quatro chopes, apenas três, com três pessoas atendendo e cerca de 15 estandes, com um copo de 350 ml, 400 ml, o tempo máximo de fila seria de 20 minutos, no horário de maior pico, e as pessoas iriam sair com 400 ml de chope. Na média o tempo da fila seria reduzido pra cerca de 10 minutos. São alguns cálculos rápidos que fiz aqui, mas que no meu entender melhorariam bastante o evento.

De qualquer forma, não foi assim, e as pessoas começaram a ficar realmente nervosas. No horário de maior pico do evento, às 16:30 – 17:30, a situação ficou bem constrangedora. A cada vez que a banda parava de tocar as pessoas começavam a vaiar e a pedir cerveja. O evento já tinha ganhado o apelido nada carinhoso de FILA Day. Eu cheguei a ficar 30 minutos em uma fila, e saia de uma fila e já entrava em outra. Pedi comida nos poucos food trucks que existiam e a comida demorou duas horas para ser entregue (como era sistema de senha, não teve tanto incômodo, mas mesmo assim é um tempo absurdo).

Mas, lá pelas 17:30 o evento começou a esvaziar – segundo comentários, muitos desistiram do evento. Eu tenho lá minhas dúvidas da porcentagem que realmente desistiu (quem desiste pagando 150-170 reais? eu não) e da porcentagem que simplesmente foi embora e aliviou um pouco o pico (quando as 2700 pessoas estavam no evento ao mesmo tempo). Digo isso por dois motivos: primeiro, porque comecei a ver copos de água cheios de cerveja abandonados, segundo, uma conversa que tive no banheiro, que também tinha alguma fila. Um cara questionou quem tinha comprado do terceiro lote, ninguém respondeu, ao que ele emendou: “paguei 170 reais pra ficar em fila pra mijar”. E eu respondi: “bom, se você tá mijando é porque já bebeu um tanto né?”. Ele ficou meio sem graça e confessou: “é, já bebi bastante”.

Copos vazios Foto tirada às 18:30, quando o evento já tinha dado uma boa esvaziada

Concordo e entendo as críticas, e acho que foi um ponto negativo bastante chato, mas as críticas do pessoal que gosta de “xingar muito no Twitter” são bem mais exageradas do que realmente aconteceu no evento. Um monte de gente já meio alta começa a ir na onda do pessoal que começa a reclamar, aquilo vai criando todo um clima e a coisa vai só piorando. O pessoal da organização tentou contornar a situação, estendendo o evento por mais duas horas, e lá pelas 19:30 eu resolvi ir embora, porque já tinha bebido bastante e experimentado muitas das excelentes cervejas que gostaria de experimentar. Cheguei e pegar uma ou outra cerveja antes de ir embora, praticamente sem fila. Destaque também que apenas algumas cervejas acabaram, Bodebrown Cacau IPA e Rye IPA acabaram rapidamente. Acho que a Punk IPA também acabou, e mais uma ou outra. Mas nada que passasse de 20%. Ponto positivo aqui.


Cabe ressaltar que os organizadores foram totalmente sinceros e honestos, divulgaram pedidos de desculpas publicamente, enviaram e-mails a todos os participantes, abriram canais de comunicação para tentar melhorar no próximo evento etc.

Segue aqui uma outra avaliação, do Lupulinas, junto com uma entrevista com o Rafael Moscheta.

As cervejas

Aliás, as cervejas: tinha muita coisa legal. Na minha opinião, destaque para a Tarantino IPA, Cevada pura + Cigar City, Tupiniquim Lost in Translation, Way Saquê IPA, Bodebrown Cacau IPA e Invicta Black Cat. Mas tinha muito mais coisa bem legal, veja a lista completa abaixo:

  • 2 Cabeças Funk IPA
  • 2 Cabeças Hi-5
  • 2 Cabeças Maracujipa
  • Bier Hoff Haka
  • Bodebrown Cacau IPA
  • Bodebrown Black Rye IPA
  • Bodebrown Perigosa
  • Bodebrown Victoria´s Secret
  • Brewdog Punk IPA
  • Brooklyn Brewery East India Pale Ale
  • Cevada Pura + Cigar City American IPA
  • Colorado Indica
  • Colorado Vixnu
  • Dama IPA
  • Goose Island IPA
  • Invicta 1000 IBU
  • Invicta Black Cat
  • Invicta Damiana
  • Invicta Imperial IPA
  • Invicta Six O´Clock
  • Júpiter IPA
  • Rogue Yellow Snow IPA
  • Röter + RockBird Miwok Session IPA
  • Seasons Green Cow
  • Seasons Holy Cow
  • Tarantino IPA
  • Tupiniquim Anunciação
  • Tupiniquim Extra Fancy
  • Tupiniquim Lost In Translation
  • Tupiniquim Polimango
  • Wals Hop Corn
  • Wals Niobium
  • Wals Session Citra
  • Way Brett IPA
  • Way Die Fizzy Yelow
  • Way Saquê IPA
  • Weird Barrel Fancy BURP
  • Weird Barrel Naughty GROG
  • Weird Barrel Pirate´s FLIP

Sugestões

Bom, já dei acima algumas sugestões, mas deixo aqui registrado algumas ideias. Sem ordem de prioridade específica, e também acredito que muita gente não vá concordar com uma ou outra ideia, mas o ponto principal é tentarmos fortalecer e melhorar este evento, além da cena como um todo das cervejas artesanais. Ou seja, juntar esforços, ao invés de criar rixas e grupinhos num meio que precisa muito da galera unida.

Primeiro, aumentar um pouco o tamanho do copo (nem que seja pra alegrar os beberrões de plantão que não estão muito interessados em conhecer cervejas diferentes, mas apenas em ficar enchendo a lata com algumas brejas já consagradas).

Segundo, aumentar o número de estandes, diminuir a variedade de cerveja por estande e aumentar o número de atendentes.

Terceiro, servir apenas um copo por pessoa e apenas no copo oficial do evento – mas pra isso funcionar e não gerar muitas reclamações o tamanho do copo tem que ser maior.

Quarto, não chamar brejas muito concorridas (leia-se, importadas) para o evento. Acredito que o evento deva privilegiar apenas cervejas nacionais. Todo mundo já está cansado de conhecer a Punk IPA, por exemplo, e trazer cervejas deste gabarito torna as filas muito concorridas, a cerveja acaba terminando e as pessoas acabam insatisfeitas. Quem quiser que pague 35 reais numa Punk IPA em algum bar, ao invés de querer só tomar ela o evento inteiro – o que na minha opinião não tem sentido algum, mas sim, havia pessoas com essa mentalidade no evento.

Quinto, limitar o número de participantes a 2200 pessoas. Caso o evento comece a crescer muito e a procura aumentar, então talvez seja o caso de fazer dois dias de evento. Já serão 4400 participantes.

Algumas fotos do evento