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13 de Junho de 2015  –  atualizado em 15 de Junho de 2015

 – por Rodrigo Caravita

Cervejas artesanais da Bohemia

No final de 2014 a Bohemia resolveu lançar três rótulos de cervejas especiais. Estes rótulos finalmente chegaram as gôndolas dos supermercados (Pão de Açúcar) recentemente, em maio. Tem causado um grande burburinho a chegada da gigante Bohemia (e da Ambev) no mercado de cervejas artesanais.

A verdade é que muitos “adeptos” (sic) do movimento de cervejas artesanais abominam a Ambev. Obviamente, todos tem seus motivos para abominar qualquer empresa que seja. Mas é preciso lembrar que a Ambev é uma empresa do grupo AB InBev, que possui em seu repertório cervejas como a Hoegaarden, Leffe, Belle Vue Kriek, Franziskaner – entre outras.

Por outro lado, ouvi muitos elogios, dizendo que a entrada de uma marca de peso neste mercado talvez trouxesse mais visibilidade às cervejas artesanais. Tenho minhas críticas contra este tipo de visão. Mas vamos com calma. Um passo de cada vez.

O mercado de cervejas artesanais

Em 2014, com um crescimento tímido da economia, como um todo, o mercado de cervejas especiais cresceu cerca de 20%. Nos EUA as cervejas artesanais/especiais já representam cerca de 15% do mercado, enquanto aqui no Brasil representam apenas 1 ou 2%. Ou seja, existe muito espaço para crescimento.

Obviamente, grandes empresas não querem perder a oportunidade de investir neste filão do mercado, e, bom, como vivemos numa economia de livre mercado (não tão livre assim, muitas vezes sabemos como os grandes são mais favorecidos que os pequenos, vide a batalha pela nova legislação de impostos sobre as microcervejarias), elas têm este “direito”.

Recentemente a Ambev fez uma “parceria” com a Wäls, microcervejaria mineira, e a suposta aquisição da micro gerou (e tem gerado) bastante discussão. Leia mais sobre o assunto, aqui, aqui (notícia oficial do site da Ambev) e aqui.

Anos antes a Brasil Kirin já tinha percebido esta possibilidade e adquiriu a cervejaria Baden Baden e a Eisenbahn, teoricamente sem interferir na fabricação e nas receitas.


O argumento que mais tenho ouvido para defender estas fusões é sobre o efeito positivo no mercado; que uma marca deste porte pode fazer com que pessoas que não conheçam estes estilos de cervejas pensem em experimentar algo diferente. Seria uma espécie de “porta de entrada” para o universo (sic) das cervejas artesanais.

Bom, primeiro é preciso ir com calma e entender que, stricto sensu, isso de cerveja artesanal não existe. Quer dizer, existe, aquela que fazemos (quem?) em casa. Escrevi um pouco sobre o tema aqui. Mas a discussão é extensa e é muito difícil encontrar critérios bons e honestos para diferenciar cervejas “comuns” das cervejas chamadas especiais ou artesanais. Mas sim, evidentemente existem diferenças.

Mesmo assim, muitas pessoas se comportam como se estivessem numa espécie de seita, e repetem isso de porta de entrada, como se fosse uma espécie de conversão: a pessoa começa a tomar as cervejas artesanais/especiais e não para mais – e existe uma boa parcela de verdade aqui.

Mas eu prefiro não acreditar nisso de conversão. Gostos são moldados ao longo de anos, por diversos fatores, a maioria externos ao que acreditamos e chamamos de escolhas individuais – enfim, uma grande discussão sociológica e antropológica que não cabe aqui.

Agora, até que ponto a entrada de gigantes neste mercado pode impulsionar e alavancar o mercado? É uma boa questão, que deve ser posta ao lado de outra questão: até que ponto a aquisição de inúmeras microcervejarias por grandes cervejarias não está limitando a possibilidade de novas invenções?

Recentemente a cervejaria escocesa Brewdog decidiu abrir mais um lote de ações da empresa, disponível para qualquer pessoa, com o intuito de, principalmente, inibir o assédio de grandes grupos – afinal, seria mais difícil comprar uma empresa que possui vários “donos” do que apenas um. Isto porque eles acreditam que a aquisição por uma grande cervejaria limitaria a criatividade do mercado cervejeiro. Crescer economicamente, mas perder qualidade, é válido?

Acredito que há outras formas de impulsionar o crescimento deste mercado, como a luta pela menor taxação das microcervejarias, afinal, muitas pessoas não consomem estas cervejas não pelo sabor ou por falta de conhecimento, mas por serem excessivamente caras.

Mas, e as cervejas?

Por fim, resolvi deixar qualquer preconceito e esta extensa discussão de lado e experimentar as cervejas, tentar entender as propostas e fazer uma avaliação o máximo isenta destes elementos. Comprei as três cervejas e as avaliei no mesmo dia, em sequência.

Avaliação da Bela Rosa
Avaliação da Jabutiba
Avaliação da Caá-Yari

O resultado final é que, na minha opinião, são cervejas muito inferiores do que poderiam ser (tendo em vista outras cervejas da Ambev, como a Leffe), por um preço não tão acessível. Ou seja, na minha opinião: não vale o custo-benefício. Cervejas para experimentar apenas uma vez, porém por poucos reais a mais é possível comprar cervejas bem melhores, para ficar apenas nas nacionais com preços não tão diferentes ou pouca coisa mais caro: Eisenbahn, Bamberg, Colorado, Dortmund, Way – entre outras.

Imagens da degustação